Outro dia eu me peguei pensando como filmes LGBT+ têm a necessidade de sempre tratar questões da comunidade, e apenas isso. Como assim? 

Bem, parece que uma enorme gama de filmes, ao menos os mais comerciais, sempre tratam sobre as dificuldades, por exemplo, em ser parte da comunidade do arco-íris… Dificuldades que enfrentamos com relação a aceitação de sermos diferentes de padrões impostos, dificuldades que enfrentamos em nossas relações familiares, dificuldades que enfrentamos com a sociedade. Não deslegitimo tais histórias, acho sim que são extremamente pertinentes para o caminho de igualdade que estamos traçando… Mas o que me vem à cabeça é sobre existir filmes que não necessariamente tratem de tópicos como esses, e deixem fluir a história na normalidade que queremos (isso pode ser taxado como uma certa alienação de problemas, mas eu realmente acho que temos que ter esses “respiros” da militância), como acontecem nos filmes com personagens héteros e como acontece, por exemplo, no filme Flores Raras. 

A obra em questão nos propõe entrar na história da poeta estadunidense Elizabeth Bishop, que vem passar alguns dias no Brasil, na casa de sua amiga Mary, onde a mesma vive com a companheira arquiteta brasileira Lota de Macedo. Acontece que Elizabeth e Lota se apaixonam e começam a viver esse amor, ferindo o coração de Mary, que permanece apaixonada por Lota mesmo assim até o final.

O ponto dessa nossa conversa não é o fato da sinopse do filme em si, mas quero trazer a questão da história toda tratar a homossexualidade delas três, inclusive Mary “adota” uma filha, com toda naturalidade possível, assim como vemos em filmes normativos em geral. Não há uma grande cena de preconceito em relação a elas, não há aprofundamento sobre questões de aceitações expostas por nenhuma delas, e todo o enredo é conduzido com extrema naturalidade, chegando ao ponto de eu quase esquecer que isso se enquadrava num filme LGBT+.

Eu sei que é importante frisar sim nas obras da sétima arte o quanto viver na comunidade é ainda uma problemática enorme, pois sofremos sim e o mundo lá fora tem essa cruel doença que é o preconceito, entretanto não posso negar o quão gostoso e libertador de alguma forma é assistir um filme que traz em sua atmosfera uma certa “bolha”, onde finalmente todos enxergam a homossexualidade como algo extremamente normal, como deveria acontecer no nosso mundo real.

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